Eu não vi "Nina", mas eu gostei consideravelmente de "O Cheiro do Ralo", então ontem fui ver "À Deriva" com muitas expectativas. Eu ja tinha lido mil coisas, já sabia que o filme tinha ido pra Cannes, bla, bla, bla. Então como os filmes que eu quero ver sempre saem de cartaz antes que eu consiga vê-los (vide "A festa da menina morta") pentelhei minha mãe, larguei mão do festival de cinema judaico e fui ver esse filme.
Pra começar "À Deriva" é um ótimo título. Ótimo para o filme inclusive, uma vez que é realmente isso que acontece com a personagem, ela perde balizas, perde apoio e rumo e tudo que pode fazer é se deixar levar, porque a vida desmorona, mas não para.
Na realidade, eu achei a fotografia meio bonita demais, assim como o cenário de Buzios. Mas enfim, tem uma intenção legal de fazer a imagem parecer um filme antigo, como aqueles que você tem em casa da sua festa de infância. Aliás o filme é de alguma época que você não consegue identificar bem, talvez os anos 80. Fico em dúvida sobre falha na direção de arte ou essa vontade de que o filme pareça uma lembrança, algo que ficou perdido em algum tempo.
Mas o que gostei de verdade é a sutileza. O como os fragmentos da vida dos personagens vai sendo jogado, mas não é nunca unido, porque vemos tudo pelos olhos de uma garota de 14 anos que pouco compreende. Aos poucos você vai entendendo mil nuances do relacionamento, compreendendo razões e desesperos. Sem que nenhum deles tenha que ser didaticamente explicado para você.
Aliás, melhor plano do filme quando o personagem do Vincent Cassel está totalmente destruido, mas você não o vê, você ve o como ele é incapaz até mesmo de lavar a louça, desorientado.
Não é um filme genial, mas é um filme incrível em tanta sutileza, que constroi personagens bastante profundos e bastante humanos, que mostra muita coisa sem dizer nada. Inclusive ao futuro da Filipa, a personagem que se vê começando a compreender o mundo. E para mim, conseguir construir tanta atmosfera, e tanto tecido de personagens é um mérito enorme.